quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Kuyper e as Olimpíadas

Um pouco de Kuyper, um pouco de Dooyeweerd, um pouco de esporte.

"Nem o esporte associado, nem o mercado, nem a igreja são “partes” do Estado. Cada uma dessas “esferas” é um todo em si mesma. Cada uma delas é bem-vinda por conta de sua capacidade de adicionar mais cor à vida. Tratar a pluralidade diferenciada das associações de outra forma sempre resultou em enormes distorções ao longo da história: do colorido de volta ao monocromático! Na antiguidade, o esporte, ainda jovem, teve que se submeter aos propósitos da associação política. Considero uma vitória histórica o desdobramento moderno de uma “esfera” independente do esporte. Entretanto, tudo indica que estamos em uma fase de retrocesso. Quem perde com isso? Todos nós que apreciamos o esporte pelo que ele é, ou veio a se tornar na vida moderna, e não pelo que querem fazer dele".

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

3º Congresso da Aket: Globalização e Comunidade: Perspectivas Cristãs.

Caro amigo/associado,

Você é nosso convidado para o III Congresso da Aket: Globalização e Comunidade: Perspectivas Cristãs.

O fenômeno da globalização é um fato no qual todos estamos implicados. O acelerado avanço tecnológico em áreas como transportes e comunicação, aliado à crescente permeabilidade de antigas barreiras que restringiam as trocas entre atores globais, como aquelas apresentadas pelos Estados Nacionais, reconfiguraram grandemente as relações sociais e vidas pessoais por todo o mundo, fazendo deste um local simultaneamente muito grande e muito pequeno. Pessoas, instituições públicas e privadas passam a ter de se relacionar com este novo cenário mundial e com suas implicações para o futuro.

Mas embora a globalização seja um fato, não há unanimidade sobre ele. Intensos debates têm sido travados em torno dos riscos e reais benefícios para a vida de pessoas e instituições por todo o mundo. Será a globalização um caminho inevitável, no qual o mundo tenderá a se tornar uma aldeia global, mais consciente e mais tolerante? Ou será ela uma grande construção virtual e impessoal, destrutiva para as instâncias e instituições que sustentam a individualidade e a comunidade? Em qualquer caso, que tipo de resposta o cristianismo deve articular diante desse “mundo novo”?

Estas e outras perguntas se tornam relevantes à medida que participamos deste momento histórico sem precedentes como agentes conscientes e responsáveis. E é com prazer que a Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares convida os interessados para o seu 3º Congresso: “Globalização e Comunidade: Perspectivas Cristãs”, quando teremos a oportunidade de imaginar um mundo diferente.

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Marque em sua agenda: 23 a 25 de Outubro de 2009.
Valor da Inscrição:
R$ 20,00 para membros da AKET
R$ 30,00 para estudantes (não associados à AKET)
R$ 40,00 para outros participantes (não associados à AKET)
Preencha a Ficha de Inscrição anexo e envie para o email secretaria@aket.org.br.
Informações: Guilherme | 31 8417-6211

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Colóquios da AKET [Set-Out]: Documentário sobre Fé e Ciência

Caros amigos,

Em julho deste ano (2009) foi lançado o documentário "Test of Faith" pelo Faraday Institute (Cambridge), que apresenta uma introdução às questões centrais sobre o debate atual de religião e ciência, sob uma perspectiva cristã. O documentário, em três partes (cosmologia, biologia e neurociências), ganhou a prata entre os melhores documentários europeus de 2009.

Dando prosseguimento aos Colóquios que vem sendo realizados desde Maio, A AKET fará uma exibição pública gratuita desse documentário nos dias 21 e 28 de setembro, e 05 de Outubro. Serão três segundas feiras seguidas; em cada uma faremos uma introdução, exibiremos uma parte do documentário e teremos o nosso tradicional bate-papo.

Como o espaço é limitado, pedimos encarecidamente que os interessados confirmem presença!

LOCAL: LIVRARIA STATUS - CAFÉ, CULTURA E ARTE, Rua Pernambuco 1150, SAVASSI.
HORÁRIO: 19h30
INFORMAÇÕES: Guilherme ou Alessandra (25358962)

PARA SABER MAIS SOBRE O DOCUMENTÁRIO, CLIQUE AQUI

VEJA ABAIXO O TRAILER:


terça-feira, 11 de agosto de 2009

A Igreja Brasileira na Cultura Emergente



Descrição do Tema:

Talvez a maior transformação cultural que observamos na história recente do ocidente seja a de um paradigma moderno de pensamento e cultura para aquilo que muitos denominam pós-modernidade. Dentre as grandes mudanças na cultura estão a transformação do conceito de verdade, o ressurgimento de formas variadas de espiritualidade, a crítica à noção de progresso econômico e tecnológico ocidental, o ceticismo em relação ao método científico como caminho privilegiado do conhecimento, o pessimismo em relação às grandes narrativas e ao futuro da humanidade e o pluralismo cultural e religioso.

De uma realidade apenas descrita em livros e análises culturais esta nova cultura, denominada emergente, já se mostra fundamental na formação das novas gerações. Dentro do universo cristão mundial tal mudança de paradigma, ou de visão de mundo, vem acompanhada da proposta de uma nova forma de cristianismo, que responda e se adapte às novas realidades. Para muitos, o cristianismo está emergindo de algo ultrapassado e estagnado para algo novo e dinâmico. Nesta onda de novidades, muitas têm sido as propostas de reformulação do pensar a fé cristã, incluindo expressões de sua espiritualidade, sua visão de salvação, suas formas de culto, de adoração e sua visão de verdade. O movimento cristão emergente, como vem sendo denominado, apresenta desafios reais a uma igreja resistente a mudanças, atraindo muitos daqueles que crescem em um novo contexto cultural.

Com um número expressivo de literatura, sites, blogs, grupos de estudo e igrejas pelo mundo e, crescentemente, no Brasil, os emergentes devem ser ouvidos em suas propostas e avaliados em seus riscos. Este é o contexto em que abordaremos o tema A Igreja Brasileira na Cultura Emergente, buscando entender esta nova realidade que nos cerca, oferecendo respostas cristãs sólidas e sensíveis ao nosso tempo. Isto será feito por meio de palestras, workshops, momentos de perguntas e respostas e muita comunhão nos dias 14, 15 e 16 de agosto de 2009, no aconchegante Sítio da MPC, em Macacos, MG.

Informações e Inscrições:

SOLICITE A FICHA DE INSCRIÇÃO E MAIORES INFORMAÇÕES PELO EMAIL:
labri.brasil@gmail.com

Ou ligue: 31 9225-1923 (Vanessa)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Terceiro Colóquio da Aket - Agosto

Na próxima segunda feira, dia 10 de Agosto, teremos o nosso terceiro colóquio mensal da Associação Kuyper.

Vanessa Belmonte apresentará uma discussão do livro Beyond Homelessness: Christian Faith in a culture of displacement, de Steven Bouma-Prediger e Brian Walsh. Trata-se de uma obra recente sobre a questão da exclusão social e o desafio da hospitalidade cristã no mundo contemporâneo - questões de grande importância para uma Teoria Social Cristã. (Veja abaixo um resumo da discussão).

LOCAL: LIVRARIA STATUS - CAFÉ, CULTURA E ARTE, Rua Pernambuco 1150, SAVASSI.
HORÁRIO: 19h30
INFORMAÇÕES: Guilherme (91653382) ou Vanessa (34621182)

Os autores analisam atentamente nosso sentimento de ter um lar, de pertencer a um lugar, e suas ramificações para a forma como nos relacionamos com o ambiente à nossa volta e com as pessoas em geral, principalmente aquelas consideradas deslocadas ou excluídas pela sociedade. Apresentam uma crítica atual e completa, envolvendo aspectos sócio-economicos, políticos, teológicos e ecológicos. De forma clara e convincente, nos mostram como nossa cultura está 'deslocando' a todos nós, nos distanciando cada vez mais do senso de lar, lugar e descanso.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Publicada a Revista Diálogo & Antítese

Caros,

Foi publicada agora em Maio o primeiro número da revista científica eletrônica da Aket, a "Diálogo & Antítese: Revista de Religião e Transdisciplinaridade:

Trata-se de um grande passo, não apenas para a Associação Kuyper, mas também para o progresso do pensamento cristão no Brasil!

Pedimos a todos o apoio para a revista, lendo artigos, escrevendo trabalhos e ajudando na divulgação.

Cor Et Res Coram Deo!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

HOJE (08/06): Colóquio da Aket

Caríssimos,

hoje à noite acontece o nosso primeiro colóquio mensal da Aket!

O propósito do colóquio é manter um espaço de compartilhamento e enriquecimento intelectual para os militantes e os simpatizantes do pensamento neocalvinista; uma oportunidade de se atualizar, conhecer gente e contribuir com indicações de livros, perguntas honestas e novas idéias.

No colóquio de hoje o Rodolfo vai falar de sua dissertação de mestrado na UFMG, e sobre como a filosofia reformacional é uma ferramenta excepcional para avaliar e julgar a estruturação e o resultado de projetos sociais e de desenvolvimento comunitário.

LOCAL: LIVRARIA STATUS - CAFÉ, CULTURA E ARTE, Rua Pernambuco 1150, SAVASSI.

HORÁRIO: 19h30

INFORMAÇÕES: Guilherme ou Alessandra (25358962)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Encontro de Amigos da AKET no Sábado!

Caros amigos,

No sábado dia 06 de junho, de manhã, vamos ter o I Encontro de Amigos da Aket, a Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares. Na oportunidade vamos apresentar a nossa proposta de uma comunidade intelectual cristã e os projetos editoriais, incluindo a nossa revista online recentemente publicada, a Diálogo & Antítese e a parceria com o L'Abri Brasil.

Se você acredita que tem uma vocação para a vida intelectual cristã, essa é a sua oportunidade de participar!

Aqueles que já manifestaram o interesse se se afiliar à AKET estão convidados a organizar a sua documentação e trazê-la ao nosso encontro.

Horário: das 9h30 às 11h30 da manhã
Endereço: Rua Kepler, no. 57 (Sarom), Bairro São Bento
Informações e confirmação de presença: Vanessa Belmonte 34621182 Alessandra Carvalho 91653382

terça-feira, 19 de maio de 2009

Entidades e Aspectos Modais

L.G. Freire

A realidade é composta por entidades que existem universalmente de diversos modos. Tome-se o exemplo do futebol como uma entidade. O futebol existe economicamente, socialmente, esteticamente, simbolicamente, espacialmente, cineticamente, numericamente e assim por diante. Não interessa agora listar todos os modos ou aspectos da realidade. Basta que se diga que existem certos aspectos que são irredutíveis, isto é, são universais porque não podem ser "apagados" de qualquer entidade sem que esta perca seu sentido. Que seria do futebol sem seu aspecto jural? Não são as regras que, de certa forma, moldam o jogo e que o diferenciam do rugby ou do cricket? Fica óbvio, então, que as entidades existem necessariamente em diversos modos irredutíveis.

O fato de existirem diversos modos irredutíveis aponta para uma inferência necessária: nenhum desses modos pode ser absoluto. Trata-se quase de uma tautologia, mas nem todos percebem a relevância disto. É que, se quiséssemos afirmar que um aspecto é absoluto (por exemplo, "a realidade última das coisas é de natureza material"), acabaríamos destituindo as entidades reais de sentido. Seria como o futebol sem regras. Sem regras, sem sentido.  Não havendo a possibilidade de redução de um aspecto modal a outro aspecto modal, resta concluir que nenhum deles é absoluto. Logo, todos os aspectos modais são relativos entre si.

Uma ilustração clara que pode ser encontrada na história do pensamento filosófico ocidental é o debate entre monismo e dualismo. Monistas (por exemplo, Thomas Hobbes que postulou a realidade última das coisas como sendo de natureza física-mecânica) acabavam por reduzir os diversos aspectos modais a um só (ou a modalidades fundamentalmente decorrentes do aspecto último). Dualistas (por exemplo René Descartes que encontrou duas realidades últimas, material e ideal, refletidas no seu argumento sobre o mundo dentro e o mundo fora da mente) encontravam dois aspectos fundamentais de onde fluiam os demais modos de existência das coisas. Em ambos os casos, existe uma operação de redução, acabando em perda de sentido. No exemplo monista hobbesiano: é difícil imaginar algo que só existe como um mecanismo e como nada mais. Da mesma forma, não há no dualismo cartesiano uma forma de se conciliarem ambas as realidades últimas.

Contudo, o problema do monismo e do dualismo é um debate que só passa a ocorrer no contexto de um tipo de pressuposto específico: o de que um aspecto modal (ou dois) geram os demais. Em outras palavras, o pensamento teórico se vê comprometido aqui com uma espécie de "axioma" que orienta todo o sistema filosófico: a atribuição de auto-dependência ou de independência a um aspecto modal, ao passo que os demais passam a ser relativos a esse aspecto absoluto. Se quisermos, trata-se da divinização de um aspecto particular da realidade. Aqui pode-se ver que todo o pensamento teórico em último caso é impulsionado por uma ideia de Origem da ordem, da diversidade e da unidade de todas as coisas.

A diversidade de aspectos modais não corrobora os reducionismos que atribuem a Origem a um ou poucos aspectos da realidade. Para uma realidade diversificada, é preciso uma visão teórica pluralista, no sentido de levar em conta todos os aspectos modais básicos. Um aspecto básico é sempre irredutível. Algumas coisas existem "internacionalmente", mas nem todas as coisas existem "internacionalmente", mesmo em um mundo globalizado. Logo, este não é um aspecto básico. Uma teoria que inclua todos os aspectos irredutíveis é possível porque haverá sempre uma lista consideravelmente limitada de aspectos básicos. Tal visão sobre a constituição básica do cosmos deve, portanto, ser não-reducionista, por versar sobre todos os aspectos irredutíveis.

A pluralidade de aspectos modais irredutíveis por si só é apenas um elemento de uma explicação adequada da realidade que experimentamos no dia-a-dia. É preciso acrescentar a essa ideia de diversidade um elemento unificador, uma Origem da sua ordem, unidade e diversidade. O cosmos em si pode teoricamente ser postulado como Origem, mas é incapaz de unificar os aspectos modais irredutíveis e de, ao mesmo tempo, manter a sua unidade. Nessa situação hipotética, terminaríamos com um "monismo cósmico" reducionista, que é justamente o tipo de coisa que queremos evitar no intuito de escapar de uma visão monocromática do mundo. Considerando, então, que nenhum aspecto modal dentro do cosmos pode ser a Origem por si só, nem mesmo todo o cosmos o pode, então resta a opção de remeter essa Origem para fora do cosmos.

Antes de explorar mais essa opção, é preciso destrinchar um pouco o significado da diversidade de aspectos modais. Já afirmamos que eles são reais no mundo atual (não ideal, dado o princípio não-reducionista em jogo). Resta, então, saber o que diferencia um aspecto do outro, e o que os unifica dentro do cosmos. Faz sentido afirmar que um aspecto, sendo irredutível, tem sua própria "dinâmica" de funcionamento interno. Em uma terminologia mais precisa, um aspecto tem seu próprio cerne, ou núcleo, de leis internas únicas. Essas leis identificam um aspecto modal. Assim, por exemplo, a lei central de um aspecto biótico seria a lei do ciclo da vida. A mesma lei não existe exatamente da mesma forma no aspecto histórico-formativo. Mesmo os historiadores biótico-reducionistas utilizavam a lei do ciclo da vida de forma analógica. Isto indica que a lei-cerne de cada aspecto modal irredutível é única e interna ao seu aspecto. Sempre que for abordada do ponto de vista de outro aspecto, por definição, essa lei terá seu sentido original alterado e servirá como metáfora ou analogia.

(Vale notar, de passagem, que a existência de analogias é, assim, mais uma forma de se verificar a irredutibilidade mútua dos aspectos modais básicos.)

A existência de um conjunto de leis-cerne únicas em cada aspecto modal irredutível explica em grande parte a diversidade dos aspectos modais. É claro que as entidades funcionam sob essas leis ora de modo passivo, ora ativo. Eu, por exemplo, escrevo ativamente num pedaço de papel. Mas o artefato "papel" funciona passivamente no modo simbólico-lingual. (Existe também uma ordem progressiva que organiza os aspectos modais de modo que seja possível diferenciar entre todo o bloco de aspectos ativos que qualificam uma entidade por um lado e, por outro, o bloco dos demais aspectos irredutíveis. Deixo o esclarecimento disto para outra oportunidade.)

A existência de analogias modais é sintomática tanto da diversidade quanto da unidade ou de algo maior que unifica esses aspectos modais. O fato das analogias indica que uma lei de um dado aspecto irredutível funciona analogamente em outro aspecto, e o mesmo ocorre com as demais leis-cerne dos demais aspectos modais. O conjunto ortogonal de relações inter-modais aponta para a universalidade dos aspectos modais. Já sabíamos disso ao afirmar que eram irredutíveis, e que, portanto, todas as entidades necessariamente funcionam em todos eles, ora ativa ora passivamente. Agora fica clara uma forma de se verificar empiricamente que isso é o caso.

Existe, ainda, outra coisa que unifica todos os aspectos modais. Todos eles existem no tempo. Temporalidade é o fator que "amarra" (se podemos colocar assim) os modos básicos de existência. Em outras palavras: todas as entidades existem universalmente nos aspectos modais irredutíveis até que deixem de existir.

Assim, em suma, a diversidade dos aspectos modais irredutíveis é explicada por suas distintas leis-cerne. A sua unidade pode ser verificada nos momentos analógicos das leis aspectuais, por um lado. Por outro lado, todas as entidades existem temporalmente. O tempo, então, atravessa toda a diversidade aspectual.

A experiência do dia-a-dia envolve unidade e diversidade, mas sem abstração. O pensamento teórico, por sua vez, efetua a análise (ou quebra) dos aspectos da realidade temporal e espera sintetizar (ou "colar de volta") todos os aspectos. A análise e a síntese geral cabe à filosofia. O estudo de cada aspecto em separado cabe às diversas disciplinas. A filosofia, ao tratar de certa forma da natureza básica da realidade, possibilita o pensamento teórico nas ciências especiais. Assim, há um momento em que a realidade temporal multi-aspectual é sintetizada pelo pensador e remetida ao seu ponto de Origem.

Já foi mencionado que as filosofias reducionistas não conseguem obter uma síntese satisfatória (no caso do dualismo) ou obtêm uma síntese monocromática ao remetê-la de volta à (e não para além da) realidade temporal. Já foram apontados os problemas principais dessas abordagens. Também já foi ressaltada a inconveniência de se localizar a Origem no cosmos como um todo. Todos esses procedimentos levam à perda de sentido e impossibilitam a inteligibilidade. No lugar, foi postulada uma visão de totalidade diversa, mas unificada. Resta saber como remeter todo "pacote" ao ponto de Origem.

Deve-se frisar novamente que todo pensamento teórico se orienta a partir de um pressuposto básico a respeito da Origem independente de todas as coisas. Ora, se já foi dito que todos os aspectos temporais são relativos entre si, e se qualquer possibilidade de Origem absoluta intra-cósmica já foi descartada, então só resta atribuir a Origem àquilo que se encontra fora da ordem temporal. Isso faz todo o sentido: afinal, a Origem origina as leis da realidade, inclusive a temporalidade e finitude da realidade.

Embora todo o pensamento teórico dependa de uma ideia de Origem, como explicado, vale acrescentar ainda mais um motivo para isso. Se todas as entidades funcionam universalmente em todos os aspectos modais, então o pensamento teórico, sendo uma entidade, funciona também em todos os aspectos modais. O aspecto fiduciário (ou pístico, relativo à fé) é um dos aspectos modais. Nada mais natural que o pensamento teórico tenha, além do componente analítico que lhe é corriqueiramente atribuído, um componente de fé.

O coração - o termo clássico que define o ser humano na sua integralidade - é o que remete o prisma da diversidade aspectual temporal para o seu pressuposto de Origem. Os judeus sabiam disso ao afirmarem que "do coração procedem as fontes da vida" (Pv. 4:23b). Tanto nas filosofias reducionistas como no pensamento teórico não-reducionista, o coração remete a visão de totalidade para seu ponto (verdadeiro ou falso) de Origem. É exatamente esse ato inicial de fé que direciona todo o restante do pensamento teórico e, na verdade, da existência humana, funcionando, assim, como formador de culturas, normas sociais, manifestações artísticas, etc.

Em suma, toda teoria, bem como toda visão de mundo de cunho mais tácito (sejam elas verdadeiras ou não) dependem de uma ideia de Origem da ordem da realidade cósmica. Não é vergonha nenhuma admitir que o conhecimento começa na fé sobre a natureza básica da realidade, da mesma forma que não é nenhum embaraço para a ciência depender da visão unificadora que a filosofia pode prover.

A opção humanista tem sido a de postular uma Origem intra-cósmica e de seguir, daí, para modelos reducionistas da realidade. O reducionismo tem o efeito teórico de destituir o objeto analisado do seu sentido pleno, ao descartar do estudo os aspectos modais considerados secundários ou mesmo inexistentes. O reducionismo pode, ainda, ter o efeito prático extremamente nocivo de moldar uma cultura em torno de um ou de alguns poucos aspectos a partir de uma visão distorcida das leis aspectuais que moldam a realidade. Como entidades, nós seres humanos também funcionamos em todos os aspectos modais. Além disso, temos a capacidade de funcionar ativamente em todos os aspectos irredutíveis. Mas é preciso desdobrar cada um desses aspectos, e ignorar a sua existência leva a um modo de vida atrofiado. O reducionismo retrata a realidade como menos diversa do que realmente é. Retrata as possibilidades e leis que regulam a existência como mais limitadas do que são. O resultado pode ser desastroso para o bem-estar.

O não-reducionismo, pelo contrário, consegue abordar teoricamente a natureza básica da realidade temporal e é capaz de moldar de forma mais positiva a cultura e a vida em comunidade, de modo a desdobrar toda a diversidade de aspectos da vida. Tudo isso, é claro, partindo do pressuposto de que a Origem se encontra na eternidade, ou seja, fora da ordem temporal.

Como cristão, enxergo um arcabouço geral não-reducionista como o único viável para um pensamento teórico que remeta a Origem ao Deus eterno. Se Ele é o Senhor do universo, ele também pode ser o Senhor do pensamento teórico. A fé coerente é aquela que procura se aperfeiçoar em termos da inclinação fundamental do coração em direção à Origem. Isso também deve incluir a maneira de se entender teoricamente o cosmos. Embora a maioria dos acadêmicos cristãos tenha aderido, a essas alturas, a algum tipo de reducionismo, eu sei de três coisas: primeiro, que o reducionismo é um projeto falido. Segundo, que, se toda teoria depende de uma Origem, ser cristão e reducionista ao mesmo tempo é servir a dois senhores. Por fim, sei que existe um mundo lá fora extremamente belo e interessante que tem sido caricaturado por toda sorte de pensamento humanista. Por que não colocar o pensamento teórico a serviço da missão de exaltar a Quem deve de fato ser exaltado?


Exeter, 20 Maio 2009.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Nesta Quarta na Minueto: A Lei e a Espiritualidade Cristã


É nessa quarta-feira, 06/05, a quinta palestra do III Ciclo L'Abri-Aket. O tema será "O Sentido da Lei para a Espiritualidade Cristã"

O evento é uma promoção do Centro de Referência L'Abri Brasil e da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, com o apoio da Escola de Música Minueto.

Datas e Horários:

As Palestras serão oferecidas ao longo de seis semanas (8, 15, 22, 29/04 e 06/05), sempre às quartas feiras às 20h.

Local:

MINUETO CENTRO MUSICAL
RUA PAULO SIMONI, 54 - SAVASSI

Informações: Vanessa (31 - 9225-1923) ou Alessandra (31 - 9165-3382)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Darwinismo Hoje: Impressões sobre o II Simpósio da Mackenzie


É possível um debate inteligente sobre Darwinismo e Design Inteligente no Brasil?

A julgar pelo clima belicoso cultivado cuidadosamente na grande mídia e na blogosfera muita gente já respondeu "não", e eu me contava entre os pessimistas até participar do II Simpósio Internacional da Mackenzie, "Darwinismo Hoje".

O simpósio incluiu vários nomes importantes: John Lennox, professor de matemática e de filosofia da ciência na universidade de Oxford, Paul Nelson, pesquisador do Discovery Institute e professor da Universidade Biola, e o Dr. Marcos Eberlin, professor da Unicamp, defenderam a posição do Design Inteligente. Adauto Lourenço foi também convidado a apresentar um mini-curso sobre o Criacionismo. Do lado evolucionista estavam o Dr. Aldo Mellender de Araújo, professor da UFRS e o Dr. Gustavo Caponi, da UFSC. Comentando o comportamento da grande mídia no trato da questão estava o jornalista Maurício Tuffani (para mais detalhes sobre a titulação e atividade de cada um, clique aqui). Mas falemos um pouquinho sobre as palestras e as idéias de cada um.

As Palestras e as Idéias

Os defensores do Design Inteligente (ou "DI") trataram de temas bastante diferentes, embora claramente interligados. O Dr. Lennox, que abriu o Simpósio na segunda à noite falando sobre "A Origem da Vida e os Novos Ateus", e tratou no terceiro dia dos "Fundamentos da Moralidade", soube explorar algumas das principais fraquezas da dobradinha evolucionismo/ateísmo: a incapacidade do materialismo em sustentar qualquer fundamento claro para a inteligibilidade do universo (citando explicitamente o Dr. John Polkinghorne), as evidências de "sintonia fina" (fine-tunning) no universo, que constituem um argumento teísta completamente independente da biologia evolucionária (o chamado "macro-design"), e as dificuldades imensas de fundamentar uma ética plenamente humana no darwinismo.

O Dr. Paul Nelson destacou a evidência científica contrária à macro-evolução levantada recentemente a partir de estudos genéticos, citando o ataque à "Árvore da Vida" de Darwin (o seu modelo de "especiação" ou multiplicação de espécies de seres vivos a partir de um ancestral comum) publicado pela revista New Scientist e demonstrou a origem surpreendentemente teológica dos argumentos Darwinistas contra o DI que se apóiam nas alegadas "imperfeições" como evidências de seleção natural não-inteligente. Na segunda palestra, destacou a dificuldade do Darwinismo de lidar com o fenômeno da consciência, com a realidade do mal, e com a exigência de uma ética genuína.

Já o Dr. Marcos Eberlin seguiu uma abordagem mais didática, apresentando as idéias básicas do DI, primeiro em uma oficina no terceiro dia do simpósio, e depois em sua própria plenária: "Fomos Planejados - A maior descoberta de todos os tempos." Que por sinal foi extremamente instrutiva. O Dr. Eberlin foi pródigo em apresentar massas de evidência bioquímica e genética de altos níveis de "complexidade irredutível", corroborando a abordagem lançada por Michael Behe em "Darwin's Black Box" ("A Caixa Preta de Darwin", publicado no Brasil pela Jorge Zahar Editor). O pesquisador Adauto Lourenço apresentou um mini-curso sobre Criacionismo para clarear as idéias dos curiosos sobre o assunto e prepará-los melhor para a discussão.

Os evolucionistas ateístas presentes limitaram-se a um tratamento também didático da questão, procurando esclarecer com precisão os fundamentos do Darwinismo contemporâneo. O Dr. Aldo Mellender falou sobre "Darwin ontem e Hoje: 150 anos de 'A Origem das Espécies'", oferecendo um esclarecedor histórico do desenvolvimento da teoria, desde seus antecessores até desdobramentos recentes como a sociobiologia e a explicação evolucionária do comportamento altruísta, e a contemporânea biologia evolutiva do desenvolvimento (a famosa Evo-Devo). Em sua oficina o Dr. Mellender introduziu os ouvintes ao complexo problema das correntes no Darwinismo contemporâneo - onde a situação é talvez um pouco mais confusa do que se imagina. O Dr. Gustavo Caponi apresentou um mini-curso sobre "Evolucionismo", explanando detalhadamente o conceito de "seleção natural", e fez uma exposição informativa sobre a principal obra de Darwin - "A Origem das Espécies". Ambos expressaram a visão quase consensual entre darwinistas ateístas de que pode-se falar no máximo em uma "teleologia naturalizada", na forma de um determinismo mecânico, mas não de teleologia genuína.

O Debate

E na última sessão deu-se o esperado "pinga-fogo" - a mesa redonda com todos os participantes (exceto o Prof. Adauto Lourenço), que responderam a questões formuladas a partir das perguntas feitas ao longo de todo o Simpósio. Em termos de lucidez e de gentileza é preciso dizer que ambos os "lados" empataram - ou que ambos igualmente venceram. Em especial precisamos destacar a atitude respeitosa e dialógica dos professores, Paul Nelson (DI) e Aldo Mellender (Evolucionista). Quisera Deus que muitos cristãos tivessem o espírito daquele filósofo ateu - e que muitos ateístas tivessem a oportunidade de conversar com um teísta como Paul Nelson.

Quanto aos argumentos, é difícil não concluir que os defensores do DI se saíram melhor. Talvez por uma razão mais ou menos óbvia: os DI's vem sofrendo ataques e articulando defesas contra os ateístas militantes há muitos anos, e desenvolveram uma competência elevada na apresentação de seus argumentos. Já os evolucionistas convidados se apresentaram de uma forma quase não-apologética, defendendo-se eventualmente de forma "ad hoc" e levantando críticas definidas mas evidentemente não muito desenvolvidas. Ninguém deve concluir, no entanto, que os argumentos dos darwinistas ateus acabam por aí: o resultado reflete apenas a realidade brasileira versus a realidade americana.

A despeito dessa concessão, o debate realmente mostrou uma realidade que vem se desenhando internacionalmente: o darwinismo ateu "militante" de fato não tem recursos suficientes para lidar com o problema do "sentido", da "racionalidade", do "valor" - enfim, com a experiência humana de que o círculo da realidade é maior do que o círculo da matéria pura. Há sentido e propósito no mundo, e não é possível esgotar o significado da vida humana a partir da seleção natural. Na verdade, de um modo contraditório, a meu ver, até mesmo Mellender e Caponi admitiram prontamente o fato, insistindo no entanto na prioridade da seleção natural como fonte de complexidade biológica e direcionadora do processo evolucionário.

Maurício Tuffani

Excepcional, e digna de nota aqui, foi a admissão do jornalista Maurício Tuffani (ex-editor-chefe e ex-redator-chefe da revista Galileu, ex-editor de ciência da Folha de São Paulo, entre outros méritos), de que o tratamento dado ao debate entre DI e Evolucionismo não foi equilibrado (ou justo), e que o fato reflete na verdade uma crise no jornalismo internacional. Entre outros problemas que se tornaram crônicos no Brazil estaria substituição da pesquisa e descoberta de informações pela mera divulgação de informações, o domínio do jornalismo por corporações, e a tendência do jornalismo opinativo de se tornar um mero espelho de certo público cativo.

Para quem acompanha o jornalismo científico, é um alívio perceber manifestações de sanidade em um ambiente tão polarizado pela desinformação sobre religião e ciência.

Um Balanço

O que poderíamos dizer, de um modo geral? A despeito do silêncio dominante, excetuado por uns poucos anátemas blogosféricos de ateístas militantes, é certo que o evento foi um sucesso se considerado do ponto de vista da urgente apresentação do debate sobre o Darwinismo e a Religião em termos maduros e genuinamente acadêmicos. Quem tinha preconceitos contra o evolucionismo ou contra o DI teve oportunidades reais de se atualizar.

Foi impossível não observar, no entanto, a total ausência de representação dos evolucionistas teístas ou dos criacionistas evolucionários. Na visão de alguns, isso obliteraria o conflito polar entre o DI e o naturalismo filosófico dos Evolucionistas ateus, e isso talvez não fosse interessante para a Mackenzie neste momento; talvez porque a introdução do DI na instituição já seja um dos objetivos principais do Simpósio.

Eu cheguei a perguntar ao Dr. Mellender sobre a obra de dos mais importantes paleobiólogos da atualidade - o Dr. Simon Conway Morris, da Universidade de Cambridge - que defende evidências de teleologia (e, assim, de uma providência divina) não nas "lacunas" do processo evolucionário, mas em seu próprio cerne, no fenômeno da convergência evolucionária. O Dr. Mellender expressou conhecimento da obra, e embora discorde de Morris, admitiu com um sorriso que o seu trabalho "é de meter medo" - para ateístas, é claro. Há também outros cientistas e/ou filósofos da ciência que tem visões mais nuançadas sobre a distância entre o DI e Darwin.

No futuro, quando a proposta do DI tiver lançado raízes mais fortes na instituição, seria de grande valor para o diálogo entre religião e ciência no Brasil a inclusão de nomes como Alister McGrath, Jacob Klapwijk, ou Del Ratzsch, cuja reflexão sobre DI e Evolução já mais alguns passos adiante.

Não poderíamos encerrar essa reflexão sem manifestar o nosso apoio à Universidade Mackenzie e à sua Chancelaria. A direção dessa universidade está envolvida em um importantíssimo projeto de promover a educação e a erudição acadêmica com raízes e traços claramente cristãos e reformados. Tenho ciência de que muita gente - inclusive muitos cristãos evangélicos - não vêem tal empreendimento com bons olhos, unindo-se na desconfiança à sociedade secular. Mas a estes eu só poderia sugerir que se informem melhor a respeito. Se há alguma falha, que se reconheça a coragem de confessar a Cristo no mundo acadêmico, e que se devolva o justo cumprimento da genuína cooperação.

O fim da modernidade e a aproximação do mundo pós-secular são um fato, e os cristãos conscientes deveriam ser os últimos no mundo a sentir saudades da universidade "laica". Que de "laica", é certo, nunca teve nada; mas isso seria assunto para outro artigo!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Ideia de Origem e Crítica Teórica

L. G. Freire


O pensamento teórico e a formação histórica de uma cultura são necessariamente influenciados de forma considerável por ideias acerca da Origem da existência, da unidade e da diversidade das coisas. Uma cosmovisão e uma matriz de pensamento teórico se definem em termos da inclinação pessoal tácita ou explícita em relação ao conteúdo desse conjunto de ideias transcendentais. Sem pressupor qualquer resposta a essas questões, o pensamento teórico jamais é possível. Daí ser esse relacionamento algo de cunho transcendental: trata-se da condição de possibilidade para algo.

Contudo, isso não quer dizer que todo pressuposto acerca da Origem lhe atribui transcendência de forma ativa. Por exemplo, o humanismo modernista e o humanismo pós-moderno querem sempre localizar o conteúdo das suas ideias transcendentais em coisas ou modalidades imanentes ao cosmos. Em suma: as ideias de Origem podem ser transencentes ou imanentes, mas seu caráter é sempre transcendental no sentido de possibilitar o pensamento teórico. Tudo isso pode ser resumido numa simples afirmação: qualquer teoria pressupõe uma ontologia, isto é, uma visão sistemática das categorias mais básicas que constituem o real.

O cristianismo (reformado) assume uma postura radical ao atribuir a Origem de tudo isso à Trindade auto-contida. Nada além dela é a Origem última da existência das coisas, nem da sua unidade e diversidade. Essa Origem se encontra em estado de permanente separação ontológica do cosmos. Por isso, é transcendente. Existe uma barreira intransponível entre a Trindade criadora e toda a criação. As leis naturais e os modos (simbólico, econômico, social, físico, etc) em que as coisas existem são tão reais quanto as próprias entidades que existem. Fazem parte do cosmos da mesma forma que essas entidades. Entidades e modalidades são ambas criadas. Por definição, elas não geram a Origem. Pelo contrário, são geradas pela Origem. Daí, é a coisa mais sem sentido do mundo querer explicar a Origem em termos da lógica interna do cosmos. Ou querer sujeitar Deus às restrições da ordem criada.

Mas quem é que quer fazer isso? O Dr. Dawkins, por exemplo. Mas ele ilustra um sem-número de argumentações falaciosas que apresentam essa inversão. Trata-se do tipo de argumento que, na premissa básica, afirma essa inversão de relacionamento entre Origem e cosmos. Eles dizem: "O cosmos é toda a realidade. O cosmos tem certas leis. Logo, tudo que é real deve se conformar a essas leis. Por que é, então, que Deus não se sujeita a essas leis? Quem criou Deus afinal?". O argumento não é falacioso por ofensa, mas porque tecnicamente não se sustenta. Essa é a definição de falácia. Para proceder, o argumento precisa confirmar todas as premissas. Mas a primeira é uma afirmação discutível.

É muito fácil prover uma crítica externa. A forma de um argumento externo a um argumento A é a seguinte: "B, e não A, é o caso. Seu argumento não se conforma com B. Logo, seu argumento é falso". Esse tipo de crítica, que quer derrubar A, na verdade já pressupõe que ele é falso desde o começo. É exatamente isso que acontece quando se inverte a relação entre Origem e Cosmos no argumento que se deseja refutar. É exatamente esse o erro formal que torna a questão "quem criou Deus?" sem sentido.

Além disso, é exatamente esse o erro de quem afirma que o cristão precisa dar evidência neutra e puramente imanente de que Deus existe. Ora, se o universo não for neutro, se neutralidade for impossível, e se nenhum argumento pode ser puramente imanente, então como cumprir esse critério? Na verdade, essa régua de medir a argumentação é uma forma de crítica externa também. O critério só é imposto porque a impossibilidade de neutralidade na argumentação é anulada desde o começo. Em suma: um imanentista só quer aceitar como argumento aquilo que for argumentação imanente. Só que esse critério é desprovido de qualquer sentido num universo em que isso é impossível. Ora, é justamente a realidade desse universo que ele precisa refutar - e não a do seu próprio!

Isso quer dizer duas coisas. Primeiro, boa parte do debate entre cosmovisões rivais é pura perda de tempo. A parte que se pauta por argumentos externos desse tipo tende a se assemelhar a um diálogo em dois idiomas distintos em que um interlocutor não sabe a linguagem do outro. Segundo, se existe a possibilidade de comunicação, essa deve ser buscada internamente aos pressupostos do lado oposto. A pergunta passa a ser: "pressupondo essas coisas, faz sentido afirmar isto ou aquilo?"

Pressupondo, então, uma moldura de pensamento em que a Origem se encontra fora do cosmos, faz sentido teorizar em termos a ideia da criação e uma série de procedimentos não-imanentistas de argumentação racional? Sim, claro. Pressupondo, por outro lado, um quadro geral que atribui a origem a certas coisas ou modos dentro do cosmos, faz sentido teorizar em termos da redução última de tudo o mais às coisas e modos originais?

É exatamente essa rota que parece ser a mais produtiva em termos de uma desconstrução caridosa da cosmovisão rival. Para mencionar uma vantagem, embora isso careça de maior desdobramento, deve-se notar que uma cosmovisão imanentista não consegue explicar o resto da realidade como se fosse todo ele redutível às coisas e aos modos de Origem dentro da própria realidade. Mostrar isso em cada tipo de imanentismo depende de um exame específico do seu conteúdo, mas em linhas gerais, isso quer dizer que uma visão reducionista do mundo é uma visão muito monocromática por definição.

Imagine se, como alguns pretendem, modelos microeconômicos de comportamento do consumidor explicam de fato toda a realidade social. Isto é, eles são o conteúdo das ideias de Origem da existência, da unidade e da diversidade das entidades sociais. Ora, o futebol é uma dessas entidades. O fato de podermos explicar o surgimento de um campeonato por incentivo econômico à sua criação, bem como a existência de múltiplas equipes que não obstante participam do mesmo campeonato não esgota os motivos pelos quais essas coisas existem. Não quer dizer que eles só existem economicamente, embora eles de fato tenham o modo econômico como um dos modos em que eles existem. Resumindo: uma visão economicista do futebol é como um filme em preto-e-branco. Todos os demais modos em que o mesmo fenômeno existe foram reduzidos ao puro cálculo racional de consumidores e produtores. Assim, há algo de estranho no reducionismo: ele precisa provar que estamos iludidos sobre a nossa percepção comum das coisas. Precisa nos convencer, no exemplo, que, ao fim e ao cabo, o que explica o futebol não é a criatividade esportiva, a paixão pelos times, a necessidade de exercício físico ou mesmo as propriedades físicas e motoras que são observadas no movimento da bola, sem contar as regras sociais que regem a conduta esportiva. Tudo isso é subsumido pelo interesse de firmas e compradores.

Ora, está claro que, em linhas gerais, o reducionismo contraria a nossa percepção normal das coisas. Isso não quer dizer que o modo que é considerado a Origem numa visão reducionista não seja real ou importante. Aliás, um dos motivos pelos quais mesmo o reducionismo tem um fundo de verdade e persuade certas pessoas é justamente o fato de esse modo ser de extremo relevo. Contudo, isso não quer dizer que seja correto forçar a redução da realidade a uma ou a algumas poucas modalidades de existência. Não se pode falar de qualquer coisa no universo usando apenas vocabulário referente a um modo. Isso é indicação cabal de que as coisas existem de diversos modos que são irredutíveis uns aos outros. O ponto, então, é que uma crítica interna às teorias imanentistas ganha força ao apontar as falhas do reducionismo que necessariamente resulta delas.

Ao atentar para a argumentação de cunho interno, o cristão, que direciona seu pensamento para Deus como Origem, pode explicar perfeitamente como essa Origem funciona de fato como a Origem. Mas será que o pensamento teórico imanentista pode explicar como, de fato, suas ideias de Origem agem dessa forma? É muito fácil rejeitar uma visão rival porque ela não se conforma, digamos, ao materialismo, na hora de oferecer evidência. Mas será que o próprio materialismo consegue se conformar à sua própria ideia de Origem? Será que ele consegue estabelecer suas proposições e rejeitar outras e, ao mesmo tempo, sustentar que a antítese (e outras leis da lógica) nada mais são que meros processos materiais? Será que ele consegue explicar a matéria sem usar nenhuma ideia que se refira a alguma outra coisa básica, visto afirmar ser a matéria - somente ela - o que é básico?

Exeter, 28 Abr. 2009 AD


Para ler: "Origem de Deus é Questão Absurda: entrevista com J. Lennox"

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Hedonismo

Na próxima quarta feira, dia 29 de Abril, acontece a quarta palestra do III Ciclo de Palestras L'Abri Brasil, "A Natureza do Cristianismo".

A palestra da quarta será por Rodolfo Amorim, sobre o tema "Hedonismo".

Horário: 20h

Local:

MINUETO CENTRO MUSICAL
RUA PAULO SIMONI, 54 - SAVASSI

Informações: Vanessa (31 - 9225-1923) ou Alessandra (31 - 9165-3382)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

III Ciclo de Palestras L'Abri -Aket: A Natureza do Cristianismo


Vem aí o III Ciclo de Palestras L'Abri-Aket com o tema "A Natureza do Cristianismo"

A série reúne uma série de temas centrais da fé cristã: o credo apostólico, a espiritualidade e a ética cristã; a idéia de hospitalidade e a relação entre cristianismo e hedonismo, entre outros.

Os Preletores serão Guilherme de Carvalho, Rodolfo Amorim e Vanessa Belmonte.

O evento é uma promoção do Centro de Referência L'Abri Brasil e da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, com o apoio da Escola de Música Minueto.

Próxima Quarta: A Mensagem do Credo Apostólico

Na primeira palestra, por Guilherme de Carvalho na próxima quarta feira (08 de Abril), vamos examinar o Credo Apostólico como uma síntese da visão cristã de Deus e de sua relação com o homem. Não perca!

Datas e Horários:

As Palestras serão oferecidas ao longo de seis semanas (8, 15, 22, 29/04 e 06/05), sempre às quartas feiras às 20h.

Local:

MINUETO CENTRO MUSICAL
RUA PAULO SIMONI, 54 - SAVASSI

Informações: Vanessa ou Alessandra (91653382)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Blog dos Associados e Amigos da Aket

Todos os membros da associação e contribuintes da revista D&A estão convidados a fazer parte dessa nova linha de comunicação sobre Cristianismo, Religião e Transdisciplinaridade!